sexta-feira, 22 de março de 2013

E agora José?

Num dos encontros de estudantes que participei, não me lembro qual, era época de apagão e foi distribuída uma camiseta com um trecho de um poema de Carlos Drummond de Andrade. Interessante e muito atual, apesar de ter sido escrito na chamada ditadura Vargas!

JOSÉ

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta,
e agora, José?


Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?


E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,


seu terno de vidro, sua incoerência,
seu ódio - e agora?


Com a chave na mão

quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.

José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, José!


Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, pra onde?


Por fim um link de uma música cantada pela Marisa Monte e Julieta Venegas, cantora mexicana (apesar de nascida nos EUA) de muito talento. A música chama-se Ilusion e vale à pena:



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