sábado, 27 de abril de 2013

A "Idade Média" da vida

Desde criança quando comecei a ter as primeiras aulas sobre a Idade Média, o tema me causou certa mística. Histórias tenebrosas de assassinatos, artimanhas ardilosas, caça às bruxas, inquisição, sinos ecoando no vazio de manhãs cinzentas, monastérios silenciosos, igrejas com imagens rústicas e semblantes hostis de anjos e santos, estagnação e retrocesso da ciência. O período foi longo, influenciou sobremaneira o mundo, a colonização, o Brasil. 

Meu imaginário se embrenhava em cada conto e causo proferido pelo professor de história do último ano Colegial. Já na faculdade, a disciplina História da Cultura me apresentou ao filme "O Nome da Rosa" baseado no romance do italiano Umberto Eco. Trouxe também o então lançado "Carlota Joaquina", de Carla Camurati (filme que marcou a retomada do cinema nacional), que deu um tom debochado mas não menos verdadeiro da decadência desse período. Praticamente todo cenário que há anos se desenhava na minha mente, materializou-se


Claro que ao longo do tempo muitas outras informações, relatos, inúmeros outros filmes e livros espetaculares me trouxeram esclarecimentos e uma visão menos romantizada e infantilizada da época (embora ainda não aprofundada). Entretanto, incapazes de remover a mística por completo.


Como já é de praxe traçar paralelos, não inovarei. 


Nas reflexões dos "trinta e poucos" percebi que em determinada fase, a vida pareceu ter sido tomada por certo ostracismo social e emocional. Como consequência, o sentimento de estar no lugar errado na hora errada e óbvio, de ter parado no tempo e no espaço.


As amizades da juventude já não tinham o mesmo brilho. Diferenças na maneira de agir, pensar e enxergar o mundo ficavam mais manifestas, as conversas já não fluíam e permaneciam à base de um passado de molecagens e aventuras.  Andar pelas mesmas ruas diariamente já causava desconforto. A mesmice dos diálogos, dos programas, das aparências parecia insustentável. Relacionamentos, não havia. Ninguém para uma verdadeira conversa. Um sentimento absoluto de não pertencimento. 


Nesse tempo, a Internet ganhou corpo e como um lampejo trouxe consigo o mundo. O mundo que eu esperava, o mundo que eu sabia, o mundo que em alguns momentos já experimentara embora como um personagem da "Alegoria das Cavernas" dotado de um aparelho de televisão.


Anos de criatividade, oportunidades, crescimento, descobertas e trocas muito aquém de qualquer hipótese pessimista imaginada. 

Em determinado momento veio a libertação, a experimentação, a estrada sem fim de um mundo de possibilidades. Não chegou de vez como quem traz um rito de passagem. Foi paulatino: momentos mais, momentos menos. Naturalmente e como lógica, dei por mim em outros horizontes. É estranho. Tem sido. 


As faculdades anunciavam constantemente a realidade de tal período. Traçavam a todo momento rotas de escape de uma época pela qual não houve mística, mas somente uma certa melancolia por um Iluminismo tardio.








Um comentário:

  1. Frases que não são minhas: "e o tempo passou de repente e deixou saudades"; e uma mais melancólica: "poeta, cantai as ilusões desfeitas..."

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