quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Pra não dizer que não falei das flores!

Apesar do título do texto e da relevância da música de Geraldo Vandré como marco para estudantes e opositores ao regime militar na década de 60, hoje escreverei sobre outro assunto. Se bem que nos muitos encontros de estudantes que participei entre 2000 e 2003 ainda se ouvia com frequência essa canção, inclusive em rodas de violão durante os intervalos entre uma palestra e outra. Talvez uma tentativa solitária de resgate de uma época singular na história do pensamento, da música e dos movimentos estudantis no Brasil.

Natureza. Pedra das Flores. Orquídeas. Caminhos. Paz.

De abril de 2009 a outubro de 2010 morei numa cidade ao sul do Estado de Minas Gerais chamada Extrema. Fica aos pés da Serra do Lopo e ainda nas fronteiras da Serra da Mantiqueira. 

Nesse curto período de tempo, encontrei os momentos de maior interação e perplexidade pelas belezas da natureza até os dias de hoje (apesar de atualmente morar às portas do Pantanal). 

Extrema é a primeira cidade mineira para quem sai de São Paulo pela Rodovia Fernão Dias. Fica aproximadamente 30 quilômetros da bacana cidade de Bragança Paulista. Sua população tem crescido acima do normal e no censo de 2010 possuía 28.599 habitantes. 

Por conta de sua localização, incentivos e isenção fiscal Extrema tem se tornado um pólo industrial dissonante da região e da natureza exuberante que a circunda. Parece não ter aqueles ares de cidade mineira, com um povo acolhedor, centro pacato e a igrejinha ao meio com sua praça arrumada.

A cidade não se planejou para a invasão de fábricas e migrantes em busca de trabalho. O setor imobiliário se valorizou acima da realidade, as empresas energéticas não conseguiam atender as novas e crescentes demandas, casas eram erguidas a todo momento e muitas delas abrigavam várias famílias vindas de todos os lugares do Brasil. Sujeira na rua, carros com escapamentos barulhentos, povo sem identidade, pairava quase uma certa hostilidade na convivência urbana. Diferente do cheirinho de pão de queijo.

Mas, apesar de também sofrer as consequências, a natureza estava lá! Impávida, humilde em sua grandeza, silenciosa, acolhedora, uma realidade à parte.

Morava numa casinha pintada de verde e amarelo (propriedade do sr. Zetinho), na frente de um pasto, ao pé da Serra. Frio e úmido. Para muitos, zona rural. 

Não raro acordava ao som do mugir das vacas, das ferraduras dos cavalos no asfalto, dos gritos desesperados das maritacas, periquitos, canários, pica-paus, beija-flores, joão bobos e centenas de espécies de pássaros que felizmente ainda conseguiam estar alheios ao homem.

Em cima da Serra do Lopo havia uma pedra chamada "Pedra das Flores". Através de trilhas e paisagens incríveis, alcançava-se esse lugar que recebia tal nome por abrigar várias espécies de orquídeas que brotavam naqueles pequenos espaços de terra entre uma rocha e outra. Exuberantes e contemplativas, se misturavam à imensidão da vista.

Ao continuar pela trilha, podia-se chegar ao "Cume". O caminho ganhava contornos de escalada, tornava-se mais íngreme e com menos vegetação. No topo do "Cume" tinha-se uma vista de 360 graus. Avistava-se desde as montanhas de Monte Verde, passando pela represa de Piracaia, a Pedra Grande em Atibaia até os pequeninos caminhões da Fernão Dias. E lá em cima, o silêncio. O silêncio reverente da natureza que com simplicidade expunha seus feitos e sua proximidade com o Criador. 

O vento aliviava o cansaço da caminhada e dava o folego que o "Cume" havia tomado. Lugar extraordinário. Na volta, já mata a dentro e mais atento aos redores, somente o cantar sereno dos pássaros, o zumbido das abelhas, o aroma das plantas, o estalar das árvores e as muitas cores!

De carro era possível rodear a Serra do Lopo. Nesse percurso que fazia regularmente alcançava a simpática cidade de Joanópolis. Até lá, a estrada levava a bairros de chácaras, represas, pastos, montanhas e vegetação densa. Dava para sentir o calor e o friozinho. 

Em Joanópolis, almoçava na cantina italiana "Província de Lucca" e provava das massas caseiras e do polpetone com damasco e castanhas regadas a azeite e alecrim. Era uma outra satisfação! Soda italiana de melancia e sorvete com Nutella...nessa hora me esquecia fácil dos vislumbres percorridos para me concentrar nas últimas colheradas do pistache!

Ainda, o queijo da fazenda de Camanducaia vendido numa loja de artigos rústicos, a cachoeira dos Pretos com sua altura imensa e corredeiras fazem da região realmente um lugar único. 

São regiões abençoadas e contempladas pela natureza, caminhos de muitas paisagens, estradas e trilhas por matas fechadas, montanhas silenciosas, flores perfumadas, pássaros e animais exuberantes. 

Um lugar para se retornar sempre que a paz absoluta for reclamada! Uma Natureza que revela ser verdadeira manifestação da Deidade!

Mas pensando bem, quando é que vou pra lá mesmo? Bora todo mundo?


                             
                                                                                   Casa verde e amarela!
                                         
                                       
                                                                       Vista da Represa de Piracaia
                                         

                                                                                    Cachoeira dos Pretos

                                       
                                                   Serra do Lopo: Cume e Pedra das Flores


                                                                                    O zumbido do zangão


2 comentários:

  1. Texto muito bem escrito. Já vai surgindo a veia do cronista. Felizmente tivemos oportunidade de conhecer alguns dos lugares que você mencionou. Sobre Joanópolis - escrevi uma crônica sobre ela - a terra do bom lobisomem, aquele rio muito bonito - estava cheio por causa da chuva -, era referenciado como nascente do rio Piracicaba. Parabéns pela crônica.

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  2. Fiz a trilha para a Pedra das Flores. É uma região favorecida pela natureza. O texto tá legal.

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